sábado, 26 de janeiro de 2013

O Hospital Hostil, de Lemony Snicket

O Hospital Hostil, de Lemony Snicket
Companhia das Letras - 224 páginas
E as desventuras dos órfãos Baudelaire, por mais triste e sombrio que possa parecer, ainda não chegaram ao fim.




Título Original: The Hostile Hospital
Tradutor: Ricardo Gouveia
Ilustrador: Brett Helquist
ISBN: 978-85-359-0451-2
Ano da Edição: 2007
Ano Original de Lançamento: 2003
Nº de Páginas: 224
Comprar Online: Saraiva / Submarino
Série: Desventuras em Série - Vol. 8
Outros livros da série:
     - Mau Começo


ATENÇÃO: Essa é a resenha do oitavo livro da série. Se você ainda não leu os primeiros e não gosta de SPOILER, talvez não seja uma boa ideia ler essa resenha. A Nanie evita spoilers, mas como é uma série, não tem como não falar nada do que aconteceu anteriormente.


Sinopse:
Violet, Klaus e Sunny não encontraram um lar verdadeiro na Cidade Sinistra dos Corvos... na verdade, eles foram usados como faxineiras pelos habitantes da cidade e tiveram que sair correndo de lá após terem sido injustamente acusados de assassinato.

Agora eles precisam fugir para não acabarem presos por um crime que não cometeram, enquanto tentam descobrir mais sobre o mistério de CSC mencionado pelos Quagmire.


O que eu achei do livro:
Desventuras em Série é amor demais! Eu sou completamente apaixonada por essa série e não consigo me cansar de lê-la.
Nem bem terminei de reler os livros pela segunda vez (não terminei mesmo - ainda faltam cinco livros para o final da série!) e já me vejo planejando uma terceira leitura... mas é que os livros têm tanto a oferecer.

Não vou mentir... a série é infantil e bastante simples - inclusive segue um esquema que se repete em todos os livros. As crianças arrumam um novo tutor, o Conde Olaf aparece disfarçado, nenhum adulto nota, as crianças percebem, algo dá muito errado, as crianças conseguem fugir de Olaf, mas infelizmente têm que buscar uma nova casa.
É assim, livro após livro. Uma receita simples, porém que dá muito certo.
Claro que existem algumas modificações, mas no geral é assim.

A partir de O Hospital Hostil as coisas dão uma nova mudada - a receita de bolo não segue mais exatamente como antes, já que as crianças agora são acusadas de assassinato e, portanto, não podem legalmente procurar outro tutor. Mas fora isso, elas vão para um novo lugar, o Conde Olaf aparece disfarçado e depois as coisas voltam para a receita tradicional.

Isso é ruim?! É um tanto limitante, mas a série é voltada para o público infantil e por isso eu não enxergo como um problema, apenas como um estilo da série.
E Lemony Snicket é tão habilidoso com as palavras que isso nem me preocupa. O autor tem um jeito sarcástico de contar a história que torna a aventura ainda mais divertida. A narrativa dele é bem simples, ideal para crianças que ainda estão na fase de alfabetização.
Além disso, a criatividade do autor não tem barreiras - o que faz com que os irmãos passem por situações divertidas, cômicas, absurdas e interessantes!

Daniel Handler foi muito feliz ao criar o autor-personagem Lemony Snicket. Cada vez mais, Snicket vai introduzindo detalhes de sua vida dentro da história dos Baudelaire e eu já anseio por ver algumas coisas por ele citadas, quem sabe, na série que ao autor está escrevendo agora.

Uma coisa que acho muito divertida é a evolução da Sunny, que agora está aprendendo a falar palavras de verdade!
Até agora ela falava muita coisa, mas sempre de um jeito que apenas os seus irmãos entendiam (embora no último livro já tenha começado a usar algumas palavras reais).
A bebê está crescendo e começa a usar palavras que fazem sentido para qualquer um (seus irmãos conseguem compreender frases inteiras), embora ainda utilize algumas que são incompreensíveis (como "Pietrisycamollaviadelrechiotemexity" - que eu nem consigo pronunciar... mas usaria aos montes se conseguisse).

O maior diferencial desse livro, a meu ver, não é apenas a mudança na estrutura da receita dos livros da série (apesar de que isso também é legal) e nem ver os personagens crescendo (embora isso também seja extreamente interessante), mas a quantidade de referências que o autor faz.
É possível ler a trama e entender por completo tudo o que acontece com os órfãos sem aproveitar toda a intertextualidade que o livro proporciona. Mas, sejamos sinceros, não seria tão bacana.

Lemony Snicket adora esconder mil coisas dentro da história que está contando, sejam detalhes de sua própria vida (e entendam esse própria como uma referência ao autor-personagem) ou da vida real, como homenagens.
E O Hospital Hostil é um prato cheio de homenagens e referência à literatura!
Se você ainda não leu o livro e pretende encontrar tudo por conta própria, não leia o restante da resenha.
Não vou dar nenhum spoiler da história, mas vou contar as homenagens que o autor faz.

Para começar, como eu já disse, agora Sunny fala mais do que letras aleatórias (bom, ao menos na maior parte do tempo). Então, quando ela disse "Orlando" e não havia ninguém com esse nome por perto, era uma dica muito grande de que havia algum significado nisso.
E havia mesmo!
Ela fala isso quando vê o comparsa do Conde Olaf que não se parece nem com um homem nem com uma mulher. A exclamação de Sunny é uma referência à obra homônima de Virginia Woolf que fala sobre um homem que se transforma em uma mulher (muito bem colocado, né?!).

Acha que para por aí?! Não, não, não. Eu disse que esse livro estava recheado.
Quando os órfãos estão visitando os pacientes, há um show de personagens da literatura aparecendo nos quartos do Hospital Heimlinch (o nome do hospital também não é à toa):
- Bernard Rieux é um dos protagonistas do livro A Peste, de Albert Camus;
- Cynthia Vane está presente no conto As Irmãs Vane, de Vladimir Nabokov;
- Jonah Mapple é um personagem em Moby Dick, de Herman Melville;
- Charley Anderson vem da trilogia U.S.A. de John dos Passos;
- Clarissa Dalloway é uma homenagem ao romance Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf;
- Emma Bovary é ninguém mais, ninguém menos do que a Madame Bovary no famoso clássico de Gustave Flaubert.

Logo em seguida, quando os órfãos pensam em nomes falsos, eles citam, na realidade, dois nomes de escritores reais: Haruki Murakami e Mikhail Bulgakov.

E parou por aí?! Ainda não! Tem muito mais.
No início do décimo capítulo do livro, o autor começa a contar uma história de um amigo dele, um certo lepdopterologista (palavra cujo significado Lemony alterou a seu bel prazer para encaixar a homenagem na história) chamado Sr. Sirin. Na verdade, essa é mais uma homenagem a Vladimir Nabokov, autor russo que usava o pseudômino V. Sirin no início de sua carreira e que era realmente lepdopterolista (não no sentido lemonyano, mas no sentido denotativo mesmo).

Mas, Nanie, você é super inteligente e sabia de tudo isso?! Não, vocês me pegaram.
Agora vou confessar tudo para vocês.
Eu achei estranho quando a Sunny gritou "Orlando" e pensei que deveria ter uma explicação, mas não estava perto de um computador na hora, então só procurei depois.
A primeira coisa que eu procurei foram os nomes dos pacientes, que eu só reconheci quando chegou ao nome da Madamy Bovary - que é a última da lista... os outros eu realmente nem reconheci - embora eles me parecessem aleatórios demais para ser simplesmente nomes inventados por Lemony para sua história.

A partir daí comecei a pesquisar todos os nomes malucos que apareciam, bem como todas as falas da Sunny e assim encontrei todas essas coisas legais.
Tá achando que Desventuras em Série é só para crianças? Tem muita coisa para adulto encontrar nesse livro também (com alguma ajudinha bacana do tio Google, claro).

A história ainda está repleta de anagramas que eu adoro tentar encontrar... e desvendar.
Em determinado momento do livro é apresentada uma lista de nomes - e todos são anagramas! Eu consegui resolver alguns e outros o Google me ajudou (no final das contas, a curiosidade foi maior do que a paciência):
- Lisa N. Lootnday: Alison Donalty (a designer da capa - como eu iria saber?);
- Albert E. Deviloeia: (nem com o Google eu descobri essa);
- Linda Rhaldeen: Daniel Handler *palmas*;
- Ada O. Übervillet: Volt Baudelaire (talvez o nome do pai das crianças);
- Ed Valiantbrue: V.N.T. Baudelaire (talvez as iniciais dos pais dos órfãos);
- Laura V. Bleediotie: Violet Baudelaire *palmas*;
- Monty Kensicle: Lemony Snicket *palmas*;
- Ned H. Rirger: Red Herring (Como eu iria descobrir isso?! Nunca tinha ouvido a expressão);
- Eriq Bluthetts: Brett Helquist *palmas*;
- Ruth Dërcroump: Rupert Murdoch (dono da HarperCollins - editora que publicou o livro no EUA. Sério?! Eu nunca adivinharia essa tampouco);
- Al Brisnow: Lisa Brown (a esposa do autor. Tudo bem que eu gosto dele, mas não sei nada da vida pessoal dele);
- Carrie E. Abelabudite: Sério, você não quer saber esse antes de terminar de ler a série (esse eu consegui resolver também - *palmas* - mas só porque eu já tinha lido a série toda).

Já começo a refletir que uma terceira leitura da série será super bem-vinda e apreciada. Quanta coisa escondida será que eu não consegui encontrar?!
Não sei se você percebeu, mas eu me diverti à beça lendo esse livro e procurando as referências ligeiramente ocultas que Lemony Snicket fez. É uma história muito divertida e gostosa!
Se você ainda não está acompanhando as Desventuras em Série, já passou da hora de mudar isso e conhecer os irmãos Baudelaire e sua desventurada vida.


P.S.: Pietrisycamollaviadelrechiotemexity significa "eu não faço a menor ideia do que está acontecendo" ou algo do tipo.


Nota: 
 

2 comentários:

  1. Nanie, vai para minha lista de livros para meu filho ;)

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  2. Ale, eu AMO essa série! É super simples, mas super gostosa :D E a narrativa do autor é uma delícia - super sarcástico e brincalhão. Leia você também porque certamente vai gostar ^^

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