quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Diário de Helga, de Helga Weiss

O Diário de Helga, de Helga Weiss
Intrínseca - 221 páginas
Um relato real e pungente sobre um dos períodos mais tristes da história contemporânea.




Título: O Diário de Helga
Título Original: Helga's Diary
Autora: Helga Weiss
Organizador: Neil Bermel
Tradutor: George Schlesinger
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-85-8057-305-3
Ano da Edição: 2013
Ano Original de Lançamento: 2012
Nº de Páginas: 221
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Sinopse:
Helga era ainda apenas uma criança quando foi levada para Terezín, um campo de concentração na Tchecoslováquia. Aos oito anos havia começado a escrever um diário, que ainda mantinha aos onze quando teve que deixar Praga com o pai e a mãe. É este diário, no qual ela continuou escrevendo nos anos em que passou em Terezìn antes de ser enviada a Auschwitz, que o leitor tem a oportunidade de ler agora, graças a um tio da menina que conseguiu escondê-lo até o fim da guerra.


O que eu achei do livro:
Ótimo!

Para começar, não parece certo dizer que é ótimo um relato verdadeiro do holocausto. Simplesmente porque nenhuma palavra boa parece estar no lugar certo quando esta conectada a este assunto.
O que quero dizer é que a leitura d'O Diário de Helga é bastante esclarecedora e tremendamente perturbadora, não consegui largar o livro enquanto não cheguei ao final e mal pude dormir à noite pensando nos horrores narrados pela criança.

O Diário de Helga publicado pela Intrínseca é uma tradução da versão inglesa de Neil Bermel, que organizou os relatos de Helga, traduziu-os para o inglês, juntou a alguns desenhos da menina feitos também na época em que foi prisioneira e publicou, junto a uma entrevista com Helga* em um livro inédito. Alguns fragmentos do diário da garota foram publicados através dos tempos, mas não na íntegra como aconteceu nessa versão.
Segundo palavras da própria autora durante a entrevista concedida, esse assunto ainda é um grande tabu. Por muito tempo, ninguém quis nem ao menos falar sobre o que aconteceu naqueles anos de guerra e seu diário foi pouco requisitado, embora as pessoas soubessem de sua existência. Ela também afirma que hoje em dia muito se fala sobre o assunto, mas ainda não é da forma que seria ideal - há muita coisa que não é exatamente real, fala-se muito de coisas que não poderiam ter sido daquela forma e escondem-se outros detalhes.

A narrativa é bastante envolvente, como se fosse mesmo um diário. Ora a menina fala no passado (como se estivesse contando eventos dos quais se lembra) e ora no presente (como se os tivesse vivenciando exatamente no momento em que escreve as linhas do diário), mas sempre com muito sentimento, muita verdade, muita inocência.
Uma das coisas mais tristes de ler o relato de Helga, é ver como uma criança teve que se tornar adulta antes do tempo, vivenciar algo pelo que ninguém jamais deveria passar, sobreviver em condições insustentáveis. É impressionante ver a força de vontade daquelas pessoas, como o ser humano é forte e como a luta pela vida é maior do que todo os sofrimento pelos quais passaram.

As mazelas sofridas pela criança, pelos seus amigos e familiares doem no leitor. Não é possível ler esse livro sem se envolver. É impossível largar O Dário de Helga, então tome cuidado. Mesmo que você consiga interromper a leitura (em alguns momentos, o relato é tão forte que isso se torna inevitável), não conseguirá parar de pensar em tudo o que leu.
Não entenda mal, o diário da menina é mesmo uma narrativa de uma criança, não tem descrições tão pesadas, mas está tudo nas entrelinhas. Quanto mais você souber sobre o assunto, mais sofrerá com esta leitura.

E, se quer mesmo saber, o que mais doeu não foi ler sobre as dificuldades, não foi ler sobre as torturas, a fome, as condições precárias. O que mais fere é ler sobre os fatos do cotidiano - a menina falando sobre os maravilhosos presentes de aniversário, por exemplo; ou sobre o que conseguiu juntar para presentear a mãe no Dia das Mães; ou ainda o quanto ela e as amigas se esforçaram para juntar gramas de açúcar para fazer um doce; ou o seu namoro com um cara no campo de concentração.
Os eventos cotidianos com sua simplicidade são o que mais maravilham, no bom e mau sentido. Não é possível tirar da cabeça tudo o que li. Helga agora faz parte da minha vida!

Como já mencionado, a escrita da autora é deliciosa!
O texto não é o original escrito pela Helga menina... foi mexido pela adolescente que sobreviveu à guerra (quando voltou para Praga em 1945 e contou a parte final de seu relato contida nesse diário, já que não teve acesso ao diário enquanto esteve em Auschwitz e nos campos depois dele) e também pela adulta que datilografou as páginas manuscritas anos depois. Nem por isso, entretanto, algo se perdeu. Está tudo ali e o leitor sente que tem acesso ao relato daquela criança que teve que amadurecer em tão pouco tempo.

Além das palavras, Helga também utilizou imagens para contar o que via. E são ilustrações belíssimas! Não foi à toa que a menina se tornou uma grande artista na vida adulta, mesmo com a precariedade de sua situação no campo de concentração, alguns desenhos maravilhosos de Helga sobreviveram e estão reunidos nessa edição.
Além dos desenhos a lápis (em tons de cinza), a edição ainda traz em lâminas dezesseis pinturas a cores da época em que a menina foi prisioneira (todos os desenhos de Helga têm título, estão datados e possuem uma pequena legenda que explica o momento que retratam). A edição ainda presenteia o leitor com um mapa da região dos campos de concentração e um mapa do campo de Terezín, além de mais um grupo de lâminas contendo cinco fotos de Helga com sua família, dez fotos da época da guerra e duas lâminas com imagens de documentos de Helga e sua família daquela época (infelizmente, devido ao tamanho reduzido, não é possível ler tudo).

Deixo aqui avisado que o livro é pesado e que quem o ler não será capaz de tirá-lo da cabeça. Ao menos tempo, afirmo que essa é uma leitura imperdível, que dará uma visão diferente e realista de como foi a vida durante essa época tão dura.
Das quinze mil crianças que estiveram em Terezín, o primeiro campo de concentração para o qual Helga foi levada e onde passou mais de dois anos, calcula-se que apenas cem sobreviveram até o fim da guerra. Ler O Diário de Helga é um privilégio, uma tortura e uma obrigação! É necessário que saibamos e conheçamos a triste realidade dessa guerra que mostrou que o ser humano pode ser mais do que um monstro.


* Helga ainda está viva, mora em Praga, na atual República Tcheca, no apartamento onde passou sua infância antes da guerra. Casou-se, tem dois filhos, três netos e se tornou uma artista de grande sucesso. Com todas as palavras, entretanto, afirma que a guerra nunca a deixou e que sempre revive aquele tempo, sofre com aquelas dores. Compreensível, triste, doloroso.


P.S.: O livro chegou aqui em casa ontem e eu não pretendia começar a leitura agora. Mas quando fui folhear, já me senti envolvida pelas imagens e quando comecei a leitura, não pude parar. Não consegui dormir enquanto não terminei de ler o relato, tampouco consegui dormir depois por não poder parar de pensar em tudo o que havia lido.


Nota: 

12 comentários:

  1. Nossa, vc leu em um dia todo o livro. Parece bem legal e intenso, visto a pimportância histórica. Não tem como não lembrar de O Diário de Anne Frank. Vc já leu? É maravilhoso, mas não é pesado como este que vc leu. Abraços

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  2. Luciana, acabei lendo o livro em um único dia porque não consegui deixá-lo de lado.
    É um livro bem pequeno, então o feito é possível.


    Sim, em diversos sentidos lembra mesmo O Diário de Anne Frank, mas não quis citá-lo na resenha (embora ele já tenha até sido resenhado aqui no blog), para evitar mesmo comparações. Porque o diário de Anne foi escrito enquanto ela vivia no esconderijo e ela não teve a mesma sorte que Helga de estar entre os sobreviventes. São narrativas muito diferentes as dessas duas meninas, mas ambas mexem demais com o leitor.

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  3. Caramba, eu li outra resenha desse livro e em uma delas conta que ela ficou sem tomar banho por 3 anos. O ser humano é bem cruel, sei muito bem como é ler um livro e ficar com aquilo dias na sua cabeça, sem conseguir sair de jeito nenhum (por isso que agora eu procuro saber se o livro tem algo inadequado), confesso que esse tipo de leitura devia ser obrigatória, mas na maioria das vezes eu não consigo. Sabe?! Esse sentimento que ficamos depois da leitura é bem contraditório, caramba, eu já sou uma manteiga derretida, se eu ler esse livro minha mãe vai querer saber se tem algo errado comigo.
    Eu não conhecia a Helga, na verdade eu não sei porque o relato dela não ficou tão conhecido. Que ela tenha sorte na carreira de artista, aliás já está tendo...

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  4. Nanie, a leitura mexeu mesmo com voce, eu ja imaginava que é uma leitura dificil e triste até, me senti assim quando li O Diario de Anne Frank, pois assim como o Diario de Helga, são relatos de uma criança, e isso é o que me toca muito mais! Fico imaginando os horrores que as pessoas passaram nos campos de concentração, isso tudo é muito triste! Pretendo ler esse livro também, mas num outro momento, acho que nao estou bem psicologicamente pra isso! Parabéns pela resenha, ficou marcante, assim como o livro deva ser! Bjão!

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  5. Adriana, a leitura mexeu demais comigo. Achei ainda mais pesada do que O Diário de Anne Frank. É difícil demais ler sem se envolver, acho que impossível.
    É um livro muito marcante, muito bom, muito tocante. Vale demais a pena ler!

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  6. Aline, o livro é incrível e uma leitura imperdível, ainda mais para quem se interessa pelo tema.

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  7. Nossa, esse livro deve ser realmente incrível, estou louco pra ler, já até marquei no skoob, é mesmo muito legal ler esses relatos da segunda guerra, minha professora na oitava nos mostrou um relato de um menino muito chocante.
    Eu até ganhei alguns "cartões-postais" do livro pela editora, eu tenho alguns repetidos, se você quiser Nanie, eu até mando pra você

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  8. Lucas, o livro é realmente incrível! Vale muito a pena fazer essa leitura, mas se prepare, porque é realmente impressionante!


    É mesmo? Que legal. Uai, se quiser mandar, vou gostar :) hahahah

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  9. Pode deixar, vou te mandar

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  10. Oi Nanie
    Lendo sua resenha já fiquei com um aperto no peito. Esse é um livro que preciso ler.
    Se tem um tema pelo qual me interesso muito é a segunda guerra.
    Parece que por mais livros que já li, nunca vai ser suficiente para eu compreender o quanto a crueldade humana não tem limites.
    Adorei sua resenha!
    Beijos

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  11. Lívia, eu também tenho um grande interesse por esse tema. Alguns livros simplesmente têm a capacidade de nos transportar diretamente para aquela época e nos fazer sofrer. Esse é um deles. Uma leitura muito bacana.

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