quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, de E. Lockhart

O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, de E. Lockhart
Seguinte - 335 páginas
Uma história divertida, instigante e deliciosamente apaixonante!



Título: O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks
Título Original: The Disreputable History of Frankie Landau-Banks
Autora: E. Lockhart
Tradutor: André Czarnobai
Editora: Seguinte
ISBN: 978-85-65765-20-6
Ano da Edição: 2013
Ano Original de Lançamento: 2008
Nº de Páginas: 335
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Excelente!

O que dizer desse livro?! Ele é tremendamente apaixonante. Do início ao fim, mas principalmente depois que a Frankie começa para valer.
Acha que eu estou exagerando?! O livro começa com a seguinte passagem:

"14 de dezembro de 2007
     Para: Diretor Richmond e o Conselho Administrativo da Escola Preparatória Alabaster
     Eu, Frankie Landau-Banks, venho por meio desta confessar que sou a única por trás das malcriações da Leal Ordem dos Bassês. Assumo responsabilidade total pelos transtornos provocados pela Ordem - incluindo a Garota da Biblioteca, os Cãezinhos na Janela, a Noite dos Mil Cães, a Revolta da Beterraba Enlatada e o sumiço do Peixinho.
     Isto é, eu escrevi as instruções indicando a todos o que deviam fazer.
     Eu, e somente eu."

Na hora que eu li a carta de confissão da Frankie, eu já me apaixonei de cara pelo livro! Mal podia esperar para saber o que era a tal ordem e quais foram os transtornos que mereceram nomes tão peculiares. Confesso, entretanto, que o que mais me chamou atenção nessa carta de confissão foi ela dizer que ela deu as instruções. Ou seja, era a cabeça de tudo.

Não gosto de mocinhas patetas, bobas, indefesas, chatas. O mais comum na literatura, infelizmente, é que as protagonistas sejam mulheres assim. Então, quando encontro alguém diferente, como Frankie, eu fico verdadeiramente feliz!

Frankie é o apelido de Francis Landau-Banks, uma garota de quinze anos, integrante do Clube de Debates que volta a Alabaster - um colégio interno misto - para o seu segundo ano. Dessa vez, sem a irmã mais velha que foi para a faculdade.
Agora sim ela terá que se enturmar por si mesma, já que não tem como ficar ao lado da irmã, como foi no primeiro ano. Porém, muita coisa mudou durante as férias de verão. Francis, que sempre foi vista como a princesinha da família, agora tem ideias diferentes - ela quer ser mais independente, mais dona de suas próprias vontades. E também cresceu um bocado, agora tem um corpo de mulher.
Portanto, não é de se surpreender que chame a atenção do garoto mais lindo do colégio quando as aulas começam.

Apesar de ter uma aura feminista em sua personalidade (influenciada principalmente pela irmã mais velha, Zada, que é feminista), Frankie não consegue se desvencilhar das ideias pré-concebidas da sociedade. Portanto, cai de amores por Matthew Livingston, embora, sejamos sinceros, o cara é simplesmente um riquinho sem muito conteúdo. E quer acima de tudo agradá-lo.
Ou, talvez, não acima de tudo.

Quando Frankie vai percebendo que ela não pode fazer tudo o que deseja simplesmente por ser uma garota, fica insatisfeita e decide que vai fazer o que quer mesmo assim. É aí que a parte realmente divertida do livro começa!
Aqui cabe um debate de horas sobre as reais motivações da protagonista. Quem já segue esse blog há algum tempo sabe que o que realmente me chama atenção em livros são as inúmeras possibilidades de interpretação proporcionadas e as discussões que podem surgir disso. No caso desse livro, fica a pergunta: Frankie decidiu se mostrar porque quis ou apenas porque queria estar ainda mais próxima do namorado?
A meu ver, é uma pergunta interessante e vai muito da visão de cada um. Em alguns momentos, o livro mostra que a garota deseja muito agradar ao namorado e fazer parte do mundo dele, mas em outros mostra que ela é mais do que isso, que pensa com a própria cabeça e que simplesmente quer mostrar que pode fazer tudo o que quiser.
Como admiradora confessa do feminismo, prefiro enxergar a segunda Frankie Landau-Banks.

E. Lockhart é o pseudônimo de Emily Lockhart (você pode saber mais da autora e de seus livros no site dela), que tem talento para escrever histórias divertidas!
A escrita dela é uma delícia, simples, leve e fluida, o leitor devora o livro em pouquíssimo tempo. Além disso, a autora também foi muito feliz ao criar seus personagens e seu enredo.

O enredo se baseia em pegadinhas em escolas. É visível o quanto a autora se esmerou em suas pesquisas para construir a história desse livro. Na construção da Ordem dos Bassês (ficou curioso, né?! Leia o livro e descubra mais sobre a ordem! É realmente divertido) e também no desenvolvimento das pegadinhas que compõem o livro.
O livro se passa em um colégio interno de Ensino Médio, mas os clubes e as pegadinhas são realmente famosos nos Estados Unidos em faculdades. Vai dizer que nunca ouviu falar em algum clube com nome formado por letras gregas? Certamente já! E a autora fez uma pesquisa bem bacana sobre essas sociedades e as pegadinhas que costumam tramar na hora de escrever sua trama. Aliás, uma das pegadinhas de Frankie foi totalmente baseada no Roubo do Bacalhau Sagrado de Massachusetts, cometido pelos alunos de Harvard em 1933.
A autora também cita rapidamente o Clube do Suicídio e a Sociedade Cacofônica, ambos envolvidos em criar atitudes subversivas e divertidas. Achei tudo tão divertido e interessante, que fiquei realmente com vontade de saber mais sobre o assunto. E certamente você também ficará.

Os personagens do livro são o máximo!
Matthew Livingston é o garoto lindo, rico e não-tão-legal-quanto-todos-acham-que-ele-é. De verdade... Ele é bem estereotipado como o popular do colégio, daquele jeito já tradicional de filmes americanos.
Mas Frankie, que se torna sua namorada, está tão distante quanto possível da garota popular. Ela é extremamente inteligente, tem bastante atitude, ideias bacanas e, aos poucos, começa a perceber que está sendo subjugada apenas por ser menina. Deveria se portar como um adereço de Matthew, mas ela quer muito mais. E não fica só no querer, o que é mais interessante. Ler o livro e se deparar com a incrível personalidade de Frankie é um presente e tanto.
E o que dizer de Alfa? Até agora, nessa resenha, eu não o mencionei. Mas Alfa é o contraponto do livro, não Matthew. Matthew está lá, é o namorado de Frankie, mas é só isso - quase um figurante. Alfa, por outro lado, é o verdadeiro desafio para Frankie. E um personagem extremamente interessante e intrigante (devo confessar que desde o início torci para que ele e Frankie tivessem algo).

Além de tudo isso que já falei, a autora ainda insere diversos outros pontos bacanas no seu livro, tornando a leitura ainda mais interessante!
Como já citado, ela menciona ordens reais, que criam caos na vida real e isso, a meu ver, incita o leitor a pesquisar ainda mais sobre o assunto e debater sobre as motivações de tais ordens. Temos mesmo muitos tabus absurdos em nossa sociedade e subvertê-los de vez em sempre é uma forma de liberdade incomparável. Vai dizer que não se sente tentado?
A teoria do Positivo Negligenciado, da qual Frankie tanto gosta, é simplesmente deliciosa!
E não posso deixar de citar o conceito do pan-óptico, do qual a protagonista acertadamente tanto fala. Cuidado ao clicar no link que deixei e se inteirar mais sobre o assunto, você vai descobrir que somos paranoicos, mas não sem motivo. E que somos extremamente controlados apenas pelo medo de que sejamos descobertos e não por outras motivações. Essa teoria filosófica é extremamente interessante e totalmente aplicável a era em que vivemos - estamos em um mundo totalmente controlado pelo conceito do pan-óptico.

O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks não está entre os melhores livros que li esse ano à toa. É um livro juvenil, mas muito complexo em seus conteúdos.
Fala de pegadinhas em colégio, mas ao mesmo tempo consegue fazer com que isso reflita em nossa sociedade e  em nosso comportamento enquanto cidadãos. É um livro que fala e igualidade, feminismo, controle e subversão.
A história é muito bacana, a narrativa bastante envolvente e os personagens carismáticos demais. Vale muito a pena se divertir com Frankie e suas pegadinhas.


Nota: 


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