quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Sal, de Letícia Wierzchowski

Sal, de Letícia Wierzchowski
Intrínseca - 239 páginas
Um tapete de tricô que narra a vida da família Godoy.



Título: Sal
Autora: Letícia Wierzchowski
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-85-8057-381-7
Ano da Editora: 2013
Nº de Páginas: 239
Comprar Online: Amazon / Cultura / Saraiva / Submarino
Leia também: Sal, Um Prólogo



Sinopse:
A família Godoy vive em La Duiva há algumas gerações cuidando daquele farol. Ivan e Cecília se casaram com alguma dificuldade e criaram seis filhos.

Mas tudo muda quando um estrangeiro vem de longe e vira de cabeça para baixo a vida dessa família.


O que eu achei do livro:
Bom.

Quando li Sal, Um Prólogo eu me encantei não só pela narrativa de Letícia Wierzchowki como também pelos seus personagens. Fiquei bastante ansiosa para conferir o livro em si e quando ele chegou aqui em casa, iniciei a leitura sem pensar duas vezes!

Sal é uma colcha de retalhos belamente montada e construída.
A minha analogia está tecnicamente fora do que se é esperado - porque no próprio livro a autora dá de graça a analogia para ser feita com sua história. E não é um colcha de retalhos, mas um tapete de tricô., feito com as mais diversas cores representando os membros da família.
Entretanto, durante toda a leitura eu pensava em uma colcha de retalhos. Cada membro da família era para mim um tecido diferente - não apenas uma cor, mas um tecido, cheio de nuances: cores, texturas, padrões e tamanhos. Algo mais complexo do que apenas uma linha, algo mais "quebrado" do que uma linha. Retalhos. Para mim os personagens eram retalhos que compunham uma colcha. E não exatamente ordenado como seria necessário em tapete de tricô, mas meio bagunçado e fora de ordem como em uma colcha de retalhos.

Leitor, prepare-se, é um emaranhado, seja de linhas de tricô ou retalhos, o que irá encontrar em Sal. Não espere aquela narrativa linear, toda certinha, cronologicamente acertada. Confesso, fiquei confusa no início do livro para conseguir criar em minha mente a história que a autora desenhava. Há uma sequência dos fatos, mas eles estão meio embaralhados e é preciso atenção para que o leitor consiga captar as nuances da história e formar o quadro completo em sua cabeça.

Sal é narrado por vários personagens. Não lembra a quadrilha como no caso do prólogo, mas voltamos à colcha de retalhos sobre a qual falei acima.
Um personagem vem e conta sua parte da história e é seguido por outro que às vezes conta a mesma parte, por vezes conta outras, segue para o futuro ou para o passado. É um tanto estranho, ligeiramente confuso, mas absolutamente encantador!
A narrativa da autora é extremamente bela e poética. Não é simplista, nem dinâmica, é um texto mais denso para ser lido aos poucos, com bastante tempo e apreciação.

Quando Julieta ganhou voz na trama, me senti maravilhada de tão lindo que é o texto dessa personagem e achei que até o final do livro não encontraria outro melhor. Mas a história de Orfeu levou lágrimas aos meus olhos e desejei que a vida dele pudesse ter sido narrada mais minuciosamente, mais detalhadamente, me peguei até mesmo desejando que tudo pudesse ser diferente (talvez não tudo, mas algumas partes essenciais). Definitivamente me apaixonei por Orfeu de um jeito quase impossível de transmitir em palavras, um personagem que tocou fundo a minha alma.

É palpável a diferenciação de narrativa na voz de cada um dos personagens. Fiquei bastante impressionada com as habilidades da autora! Não só por conseguir delimitar as vozes e suas diferentes maneiras de narrar, mas principalmente por fazer com que tais vozes combinassem perfeitamente com as complexas características criadas para cada um dos personagens de seu livro.
São todos protagonistas à sua própria maneira. Todos são importantes, essenciais e completamente diferentes entre si. Envolventes, marcantes, apaixonantes e detestáveis. Humanos, até demais em alguns momentos.

A edição da Intrínseca ficou um primor!
A capa é muito linda e combina demais com o livro, exatamente o tipo de capa que eu mais gosto. Além disso, o título tem um efeito metálico bem bacana e a lombada é um arco-íris de cores! Quando peguei o livro em mãos pela primeira vez, foi o que mais me chamou atenção: a lombada maravilhosa. Destoa da capa tão séria, em tons de cinza, mas, surpreendentemente, não é apenas muito bonita, mas totalmente condizente com a trama.

A diagramação interna do livro está belíssima! A divisão dos capítulos está bem bacana e as fontes escolhidas são interessantes. Ainda assim, nesse ponto tenho duas reclamações, bem pessoais.
A primeira é quanto ao tamanho da fonte que aparece em itálico. Justamente por estar em itálico, ela ficou pequena, poderia ter sido um pontinho maior para tonar mais agradável a leitura (e aqui o meu amor pelos ebooks acaba falando mais alto e exige que eu faça essa observação: eu poderia ter aumentado o tamanho da fonte no meu ereader e não teria sido, de forma alguma, um problema! Mas meu amor pelos livros físicos também exige que eu diga que tocar um livro e sentir seu cheiro ainda é algo inigualável! Ok, formatos, recado dado).
Segundo, novamente o texto em itálico: não está justificado. Tenho sérios problemas com textos alinhados à esquerda. Só um gosto mesmo, afinal de contas, não muda em nada na leitura a orientação do texto, mas acho mais agradável ler um livro com texto justificado.

Até agora só falei maravilhas do livro, mas não o classifiquei como excelente. Por quê?
Porque a trama em si não me agradou tanto.

Os personagens me encantaram, a forma "colcha de retalhos" de contar a história me deixou maravilhada, mas o enredo não. Não só por ser trágico (eu até gosto de histórias trágicas), mas por ser demais, em vários sentidos. Sem que eu entre em detalhes que poderiam estragar a trama não é fácil dizer exatamente os motivos, mas acho que para uma resenha basta dizer que tudo o mais me agradou no livro, com exceção da história que estava sendo contada. É mais ou menos por aí.

Queria essa narrativa, esse lugar, esses personagens, mas outra história.
Não que a história contada em Sal seja ruim, porque não é. É uma história boa, só não tão boa quanto personagens tão maravilhosos e uma escrita tão perfeita mereciam.

Leiam Sal!
É uma leitura diferente, cativante, extremamente interessante.
Agora quero ler todos os livros da Letícia Wierzchowski - estou tremendamente apaixonada pela escrita da autora.


PS: A história se passa em La Duiva, um lugarejo perto de Oedvetinom. Sacou a brincadeira da autora?
Não sei se é porque eu tenho mania de ler as palavras ao contrário, mas essa pulou na minha cara enquanto ainda lia o prólogo. Não sei por que ela decidiu colocar o nome da cidade invertido, mas eu achei bem legal!


Nota: 

0 comentários:

Postar um comentário

Bem-vindo ao Nanie's World. Ler seu comentário é a parte mais bacana de ter um blog!
Leia os Termos de Uso e não insira links nos seus comentários!
Fale, fale, fale! Respondo sempre :)

 
♥ ♥ ♥
Nanie's World © Copyright 2013.
Layout do blog por Nanie Dias - uma modificação da base gratuita Gabi Melo
A reprodução desse template é proibida!
♥ ♥ ♥