sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Praga da Morte, por Danilo Barbosa, Nanie Dias e Vanessa Bosso

Contos da Nanie é uma coluna do blog Nanie's World! Sempre que a Nanie tiver contos novos, irá postá-los nessa coluna, que sairá às sextas-feiras!
Sua opinião é muito importante! Diga o que você achou das histórias, sua opinião é muito importante para mim!
A culpa dessa coluna existir no blog é da @vanbosso que insistiu muito para que eu postasse os meus contos!
Hoje eu não tinha nenhum conto para postar. Simplesmente, nada. Daí twittei que não haveria conto hoje e a Vanessa (aquela mesma que deu a ideia de postar os meus contos por aqui) disse que não poderia ficar assim. E entre conversas twittadas, surgiu "A Praga da Morte", que foi escrito por mim, em conjunto com o Danilo, do blog Literatura de Cabeça, e com a Vanessa, do blog Mundo da Van.
Eu achei que o conto ficou bem legal - espero que vocês também curtam!


A Praga da Morte



Dia 16 de fevereiro de 1923. 

A câmara funerária estava finalmente aberta. O sarcófago em quartzito, finamente adornado com imagens das Deusas Ísis, Néftis, Neit e Selket saltavam aos meus olhos.
Aproximei-me da face da múmia. A máscara funerária parecia flutuar dentro do sarcófago.
Três ânforas estavam devidamente posicionadas conforme a tradição egípcia da época - uma junto à cabeça, a segunda colocada ao lado direito e a terceira aos pés do Faraó.
Na câmara do tesouro, a estátua de Anúbis brilhava imponente, em meio a joias e outros objetos reveladores.
Mesmo tendo conseguido espiar o interior da tumba em novembro, não tinha noção real do que iria encontrar lá dentro - estava fascinado com tudo aquilo. Aquele era um privilégio único: nenhum outro arqueólogo pudera contemplar uma visão tão espetacular - a tumba estava intacta!  Eu havia enfim encontrado o descanso eterno do Faraó cujo nome havia sido riscado das listas reais pelos erros do pai.
O dia foi de trabalho intenso e muito alegria. Fazíamos uma das descobertas mais impressionantes da história egípcia até então.
Mas a noite, entretanto, não foi tão tranquila como deveria. A euforia de um dia tão importante não me permitia dormir. Eu, o famigerado arqueólogo Howard Carter tremia de medo.
Nunca fui do tipo supersticioso, mas já tinha ouvido falar de uma suposta maldição imposta pelo faraó: A praga da morte!
Aliás, a frase encontrada no portal do mausoléu em novembro havia me impressionado bastante. Os peritos haviam decifrado os hieróglifos e o que eles diziam não era muito animador. Nada de bem-vindo ou qualquer saudação do tipo. Cheguei a pensar que poderia ser uma descrição de quem estava naquela tumba ou até mesmo um encantamento para ajudar o seu ocupante no pós-morte. Entretanto, a frase dizia:

"A morte abaterá com suas asas quem perturbar o sono do Faraó."

Bobeira – foi o que pensei naquele momento. Não posso negar que me assustou um pouco, mas passou rapidamente. Aquilo era apenas uma frase de impacto - para afastar ladrões. Não! Eu era um homem moderno, não tinha medo dessas coisas. Ou assim pensava. Por mais que analisasse aquela situação racionalmente - tendo certeza que maldições e coisas do tipo não existiam de fato - naquela noite eu não conseguia pregar os olhos. Tentava pensar nos tesouros (o sarcófago dourado, ânforas adornadas, joias, roupas, estátuas e outras várias peças incríveis) - seria meu trabalho descrever todas aquelas maravilhas que encontráramos. Mas não conseguia pensar em outra coisa. Aquela frase maldita não saía de minha cabeça e só me fazia ficar pensando na maldição e que eu, apesar de toda a fama que teria, não seria capaz de escapar.
Levei mais de três horas para me acalmar e dormir, enfim. Passei as semanas seguintes trabalhando intensamente. A maldição afligia meus sonhos, mas meus dias eram brilhantes - com muito trabalho e descobertas maravilhosas, dentre os artefatos encontrados.
Cerca de um mês após a descoberta do sarcófago de Tutancâmon, o mal do Faraó-menino me encontrou, com seus braços frios. As areias do deserto foram testemunhas de como fui tomado de assalto por uma voz metálica que sussurrava aos meus ouvidos. Pensei que o calor africano estava me fazendo delirar, mas estava enganado. Não tomava mais conta dos meus atos. Aquelas palavras longínquas me ditavam comandos precisos e irresistíveis.
Possuído por uma força sobrenatural, via a imagem de Lord Carnarvon, pairando sobre as dunas, como uma criação da minha mente, provinda de um delírio ensandecido. Ele dormia naquele instante. Eu senti naquele momento que o aristocrata inglês que financiou a expedição ao Egito estava com os seus dias contados. Nenhum de nós imaginava na verdade o que estava por vir.


05 de julho de 1923

Um a um, todos que fizeram parte da expedição tiveram mortes trágicas. Assim que voltei a Londres, George Edward Stanhope Molyneux Herbert, o Lord Carnavon, caiu morto após contrair uma pneumonia, seguido de uma septicemia por causa de uma picada de mosquito. Sua camareira afirmou que assim que deu o último suspiro, a cadela de estimação do nobre homem fitou o teto, uivou longamente e caiu morta acompanhando seu dono.
As visões de cada um dos membros da expedição surgiam na minha frente, nas situações mais inusitadas. E alguns dias depois, todos pereciam. Alguns de acidente, outros de doenças estranhas e raras. Será que a maldição realmente existia? E o que eu tinha a ver com tudo isso? Estaria eu perdendo a sanidade?
A voz metálica e convidativa acompanhava as visões. O sonoro cadenciamento das palavras parecia carregar o próprio tempo. Me sentia um emissário da morte, uma sombra diante dos acontecimentos da vida.
Agora, estou aqui, sentado em uma poltrona da minha biblioteca. Coloco o fumo lentamente no cachimbo e aspiro com força. Vejo as volutas de fumaça brincarem no fundo dos meus olhos.
Há uma semana tive a última visão. Havia me visto entre meus delírios e devaneios. Não tinha mais escapatória – eu era uma das testemunhas daquele descobrimento. A voz metálica estava forte em meus ouvidos, murmurando que os primeiros a contemplarem as belezas de Tutâncamon seriam os últimos a vê-lo. Me restava esperar.
Ali encostado no banco, senti a dor no peito, intensa. Prendeu a minha respiração num arroubo e me deixou sem forças. Sabia que mais um encontrava o seu fim – este alguém era eu.
Abafando um gemido, vejo uma mão infantil sair de dentro do meu peito. Como um nascimento abissal e desumano, aquele ser saiu de dentro de mim. Espírito antigo feito de desejos e dores, anseios e ambição.
Senti-me vazio quando o Faraó-menino deixou o meu corpo. Olhou para mim e sorriu. O brilho de suas joias refulgiam dos meus olhos, me deixando dividido entre o medo e o terror.
As joias... As joias feitas de ouro e morte que nos fizeram invadir seu último lar. Foram elas que me mantiveram maravilhado e hipnotizado... Impossibilitado de ver.
Por isso não percebi quando o seu suave rosto se transformou em uma horrível caveira de areia e morte.
Nem quando suas mãos ressecadas adentraram o meu peito e esmagaram o meu coração....

8 comentários:

  1. Ah, que belíssimo conto!!!! Hehehehehe

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  2. Ai, q final... fiquei em choque aqui.

    O conto é mt bom, óbvio, mas queria ver vcs escrevendo coisas... felizes. hehe

    ;)

    bjs***

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  3. Van, foi um prazer indescritível escrever contigo e com o Danilo =D Quero repetir \o/ hehehehe


    Gi., tem contos com finais felizes >.< Oras... hahahahah Só que não com o Dan e a Van ^^ heheheh

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  4. Pronto, tá ai o que disse com finais trágicos!
    kkkk
    Muito bom!
    Bjkas!

    Monique

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  5. Ai Nanie, parece que tu tem algo com finais trágicos e agora com mais dois amigos teus.
    Só vi um verdadeiro final feliz desde que conheci teu blog 'uahsuahsah

    Quando vi o nome do personagem me lembrei do Carter de A pirâmide vermelha, que já tá com a resenha no blog, que por sinal adorei :-)

    Bjus!

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  6. Anaísa, juro que não tenho nada contra finais felizes... >.< Esse conto foi baseado na lenda da maldição do Faraó... heheheh E o nome do Carter do livro A Pirâmide Vermelha é uma homenagem a Howard Carter, o arqueólogo que encontrou a tumba de Tutankamon e que virou personagem do nosso conto =D O próprio Carter (o do livro de Riordan) fala isso na história =D

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  7. Adorei!!!
    Parabéns aos três!!!
    Bjos!!!
    Andréia
    Sentimento nos Livros

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  8. Muito bom, adorei. Mas e o final, hein?

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