quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entrevista com Jô Soares


Juntamente com o livro As Esganadas (enviado como cortesia para resenha pela editora parceira Companhia das Letras), chegou um release com uma maravilhosa entrevista com Jô Soares. Achei tão interessante, que resolvi compartilhar com vocês. O texto abaixo também foi retirado do release.


Com o hilariante e engenhoso As Esganadas, Jô Soares está de volta ao seu gênero de predileção: o romance histórico policial.

Rio, 1938. Um perigoso assassino está à solta nas ruas. Seu alvo: mulheres jovens, bonitas e... gordas. Sua arma: irresistíveis doces portugueses. Com requintes de crueldade gastronômica, ele mata sem piedade suas vítimas, e depois expõe seus cadáveres acintosamente, escarnecendo das autoridades.
Com a verve que lhe é característica, Jô consegue, neste As Esganadas, realizar a façanha de narrar uma série de crimes brutais, com requintes inimagináveis de crueldade, e deixar o leitor com um sorriso satisfeito nos lábios.

Confira a entrevista com Jô sobre o processo de pesquisa e escrita de As Esganadas:
1. O fato de o romance se passar em 1938, ano de seu nascimento, é pura coincidência? O que determinou a escolha desse período histórico para pano de fundo de sua trama?
     Escolhi por uma espécie de memória atávica nascida com a gente, de outras épocas, experiências vividas por meu pai e minha mãe, como frequentar os Lamas. Enfim, saudades remotas de um tempo que não vivi.

2. O romance está recheado de fatos e personagens reais da época. O processo de pesquisa histórica é prévio ou concomitante com a escrita do romance?
     Acho que no meu caso é sempre durante. É o chamado "impulso", uma coisa leva à outra. Um pouco como as ilustrações que crio e me servem de refresco quando estou escrevendo.

3. Mais uma vez, você trata de assassinatos em série. Por quê? Você tem algum fascínio por serial killers?
     Não entendo o fascínio, talvez seja pelo fato de eu ser uma pessoal totalmente contra qualquer forma de violência. Como sou "da paz", desconto na imaginação extremada. Melhor a violência nas artes do que na realidade. Aliás, nessa área, a realidade sempre supera a ficção.

4. Como lhe ocorreu a ideia de transformar o Esteves do poema "Tabacaria" de Fernando Pessoa em inspetor da polícia? Você tem uma espécie de "gaveta de fatos" onde guarda coisas como a encenação de suicídio de Aleister Crowley ea síndrome de Nagali, para serem usadas eventualmente?
     Eu estava fazendo meu espetáculo Remix em Pessoa, em Lisboa, quando tive a ideia. Amo Pessoa e adoro Álvaro de Campos. O Álvaro tem um tipo de humor terrível que me atrai. Falar no poema "Tabacaria" de um "Esteves sem metafísica", como dizem por lá, estava mesmo a inspirar a criação do tipo.
     Aí, o fascínio fica por conta do próprio Pessoa. O fato do falso suicídio contado no livro é real, e o Crowley foi um dos maiores farsantes de seu tempo. Chegou a inspirar o livro O Mago, de Somerset Maugham. Eram dias de falsos magos e falsos profetas. Alguns mais perigosos do que outros. Será que hoje é diferente?

5. Uma curiosidade: o cineasta Manoel de Oliveira participou realmente do Circuito da Gávea de 1938, ou se trata de uma daquelas coisas que, embora não verdadeiras, são verossímeis, já que na época ele era piloto de corridas?
     Acho que o quadro aí embaixo fala por si só...

6. Seus romances estão "avançando" ao longo do tempo. Você já pensou em que época vai situar o próximo?
     Não há planejamento nenhum. A coisa vem como vem e quando vem. Meu único método é só começar a escrever quando sei como termina. Ao contrário do habitual, faço um roteiro e dele surge o livro. Em que cidade? Por enquanto foi no Rio, pelo fato de ser a capital da República. Em que época e onde vai se passar o próximo? Assim que eu souber eu conto.

7. Ao revelar logo no início do romance a identidade do criminoso você não corre o risco de desinteressar o leitor? Qual é a estratégia para manter vivo o interesse do leitor?
     Os mistérios do livro são outros. São as surpresas sobre as vítimas, sobre o assassino e sobre a identidade com o assassino. Sabe-se lá. Só sei que ele é aterrorizante. O leitor fica cúmplice dos personagens principais e torce por eles e com eles. Mais importante do que tudo, claro, é o humor. O humor é a minha ferramenta principal. Quem já leu, riu sozinho. Todos sabem como é difícil rir alto quando se está lendo.

                                                                                             

José Eugênio (Jô) Soares nasceu no Rio de 
Janeiro, em 1938. Comediante, humorista, 
dramaturgo e romancista, é também um dos 
mais importantes entrevistadores da televisão 
brasileira.
A  Companhia das Letras tem outros três
romances do autor publicados:

Como ator e comediante, o Jô é um grande fazedor de tipos. Sabe como poucos construir um personagem, defini-lo como um detalhe e dar-lhe vida com graça e inteligência. Como autor, esta sua maestria se expande: os tipos são postos no mundo e, mais do que no mundo, numa trama - e o seu criador (eu quase escrevi Criador, pois não deixa de ser um trabalho de deus) se solta. Toda a ficção do Jô é feita de grandes personagens envolvidos em grandes tramas.
Os tipos e a trama deste livro são especialmente engenhosos e através deles o autor nos dá um retrato saboroso no Rio de Janeiro no fim dos anos 1930 e começo do Estado novo - o Rio das vedetes que davam e dos políticos que tomavam, das estrelas do rádio e das corridas de "baratinhas". E nesse mundo em ebulição chega uma figura portuguesa, saída de um poema do Fernando Pessoa, para elucidar o estranho e terrível caso das gordas desaparecidas que...
Mas não vou revelar mais nada. Um dos prazeres da literatura policial é ir acompanhando o desvendar de uma trama, levados de revelação a revelação por alguém com a fórmula exata para nos enlevar - e enredar. No caso de Jô, quem nos guia é um autor que já provou seu domínio do gênero, e que aqui se supera na perfeita dosagem de invenção, humor e erudição que nos prende desde a primeira página, desde a epígrafe.
Prepare-se para ser enlevado e enredado, portanto. E prepare-se para outras sensações. Só posso dizer que a trama deixará você, ao mesmo tempo, horrorizado e com fome. E que depois da sua leitura os pastéis de Santa Clara jamais significarão o mesmo.
Luis Fernando Veríssimo


Curtiram a entrevista? Eu adorei! Por isso não resisti e tive que compartilhar com vocês! Mal posso esperar para ler esse livro! E depois vou ficar super ansiosa para ler os demais livros do autor também, já tenho certeza...
Portanto, aguardem, a resenha de As Esganadas, não tardará a aparecer por aqui.



18 comentários:

  1. Adorei a entrevista acompanhada com imagens. Eu já li os livros dele (exceto daquele "assassinato de academia..."), e gosto muito da narrativa dele. Mal posso esperar para ler o novo livro do jô. adorei o seu blog. abraços!

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  2. Esse será o primeiro livro do Jô que leio =D Mas estou com altas expectativas ^^

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  3. Olá!


    Adorei a entrevista! Eu li O Homem Que Matou Getúlio Vargas, acho de uma criatividade excelente (associar o ataque a Francisco Ferdinando com Getúlio é realmente muuuito interessante) e eu gostei muito deste livro só pela sinopse! Vou ler tão logo possa.

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  4. Tomara que eu também goste muito desse livro do Jô que irei ler =)

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  5. Ei Nanie...

    Nha muito obrigada por partilhar a entrevista com a gente. vc é linda! :)
    Adoro ler esse tipo de 'materia' pq assim podemos entender melhor o que se passa na cabeça do autor ao escrever o livro. Só li um livro do Jô e é fato que amei. Li 'O Xangô de Baker Street' é um suspense muito interessante \o/

    Obrigada por partilhar a materia querida, beijão :0

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  6. Estou doida para ler esse livro! Não irá demorar muito =)

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  7. Oi, Nanie.

    Eu gosto muito do Jô, não vou pra capa sem vê-lo kkkk, mas ainda não  li nenhum dos seus livros e esse me deixou bem curiosa.

    Beijos
    Não deixe de visitar o Blog Apaixonada por Romances

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  8. Certamente ele é um cara muito inteligente mesmo =D

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  9. Digo nada... É ótimo ler algo sobre o Jô Soares, conhecê-lo um pouquinho mais e desejar metade de sua inteligência *-*.
    Obrigada por compartilhar, Nanie!
    Bjos!!!
    Andréia
    Sentimento nos Livros

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  10. Ganhei O Xangô de baker Street de aniversário e adorei! Nunca tinha me interessado muito pelos livros do Jô, apesar de assistir o programa dele às vezes, mas acabei me surpreendendo! Fiquei curiosa pra ler outros livros dele.

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  11. Ah... eu gosto do Jô =D Mas concordo que ele passa do ponto as vezes ><
    Esse eu ainda não li >< Na verdade, não li nenhum livro do autor... vamso ver o que acho =D

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  12. Oi Nanie!
    Apesar de achar o Jô Soares um pouco grosseiro e sem graça, a entrevista está bem legal. Li apenas 1 livro dele, o Xangô de Baker Street e não achei ruim, não.
    BJs

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  13. Oi, Nanie.

    Adorei essa entrevista, que está bem instrutiva. E fiquei feliz em saber que o meu querido Fernando Pessoa é citado. Adoro!!!

    Dele, já tive o prazer de ler "O Xangô de Baker Street" (que não gostei, pois achei o ritmo da história meio parado. Não sei expressar em palavras, porque li-o há muitos anos atrás) e "O Homem que matou Getúlio Vargas (que adorei e recomendo).

    Adoro o Jô, assisto ao seu programa, mesmo não concordando com algumas atitudes dele. (risos).

    Quero saber o que achou desse novo lançamento depois. ^^

    Beijos.

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  14. Sabe Nanie... Nem gosto muito do Jô... Mas nunca li nada dele, então não posso falar dele como autor. A Entrevista ficou legal e um tanto curiosa!

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  15. Eu amo Jô Soares, acho o programa dele um dos mais interessantes para se assistir, pena que passa tão tarde... Agora, como escritor, não o aprecio tanto! E não sei pq, e eu leio tantos romances históricos, alguns que nada tem a ver com a realidade, outros que usam personagens históricos reais, de fatos reais romanceados, mas com o Jô Soares eu tenho uma certa birra! hahah Um certo Mal de historiador, deve ser...

    Adorei a entrevista! Adorei o texto abaixo! haha Ele tb cita 'Álvaro de Campos', eu ador os poemas dele... Alias, Fernando Pessoa é maravilhoso!

    Bjusss 

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  16. Muito legal Nani! Adorei... dele só li Assassinato na Academia Brasileira de Letras, e gostei bastante.
    Esse parece super bacana também!

    Beeijoss

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