terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr


Título: A Batalha do Apocalipse
Título Original: A Batalha do Apocalipse
Autor: Eduardo Spohr
Editora: Verus
Ano da Edição: 2010
Ano Original de Lançamento: 2007
Número de Páginas: 569
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Sobre o livro:
Deus criou o mundo em sete dias. Na verdade, em apenas seis dias, já que durante o sétimo ele descansou. O que não se sabe é que cada um desses dias durou, na verdade, milhares de anos, sendo que o sétimo dia ainda perdura. E o Altíssimo descansa em seu sono infindável.
Enquanto Ele descansa, Miguel, um dos seus arcanjos, tomou o poder e governa em Seu nome. Mas Miguel tem inveja dos seres humanos. Aos seres humanos foi dado o dom do "livre arbítrio" que foi negado aos angelicais e o que despertou a inveja do arcanjo. E assim, com o dilúvio, Miguel tentou varrer os seres humanos da face da Terra. Mas apesar de sua descrença, aquela única família que havia sido poupada conseguiu se multiplicar e os humanos voltaram a povoar a Terra.
Miguel não ficou satisfeito e não desistiu de seus planos de extinguir a humanidade.
"Mas nem tudo correu como esperado. Séculos depois do dilúvio, os homens voltaram a se multiplicar, o que enfureceu sobremaneira o ditador. Sua fúria caiu, então, sobre a cidade de Sodoma, um centro terreno que prosperava e crescia. Miguel resolveu devastar o lugar e convocou todos os anjos para uma assembleia, com o intuito de anunciar sua decisão. Após um demorado discurso, confirmou o extermínio não só de Sodoma, mas de todas as cidades na vastidão da planície. Irritados, eu e os conjurados levantamos a palavra [...] Uma luta violenta se sucedeu, até que os pilares do paraíso racharam, e despencamos. Fantástico e insuperável é o poder do sinistro Miguel; ele nos amaldiçoou, condenando-nos à pior sentença que poderia ser dada aos celestiais. Ele nos encarcerou em nosso corpo físico e nos expulsou para a terra. E assim fomos relegados ao plano material."
Ablon, um dos comandantes dos querubins - os anjos guerreiros - não se submeteu aos caprichos de Miguel e ficou ao lado dos humanos. E foi então que ele, e seus seguidores, foram expulsos do céu- eles eram os renegados.
E Ablon viveu muitos e muitos anos entre os humanos até que a derradeira hora se aproximou - o Apocalipse - o momento em que ele seria capaz, mais uma vez, de defender os seus ideias.

O que eu achei do livro:
Esse é um livro maravilhoso, uma espécie única na literatura brasileira. O melhor livro que li esse ano? Não, não chegaria tão longe. Mas certamente está entre os melhores. Perfeito? Não, de forma alguma. Teve algumas coisas que me incomodaram - e muito - nesse livro, mas antes vou falar um pouquinho de tudo que gostei.
O livro é repleto de citações históricas, de viagens pelo mundo. Através das jornadas de Ablon, conseguimos visitar várias momentos da história da humanidade, culturas distintas, personagens singulares - uma viagem maravilhosa! E no quarto do renegado, pode-se encontrar um pequeno museu que guarda as relíquias colecionadas por ele durante todos os seus anos de convivência com o ser humano. Devo dizer que me encantei com o lugar! E também fiquei com um pouquinho de inveja!!
"Nunca carregava coisa alguma em suas viagens, mas guardava os itens em sítios escondidos, e agora ele os reunira em seu refúgio. Assim, o salão mais parecia um pequeno museu. Nas estantes abarrotadas, descansavam documentos ancestrais, tomos de feitiçaria, tapeçarias medievais, tratados helênicos, papiros egipcios, mapas espanhóis e exemplares de livros originais do século XIX, incluindo um manuscrito de A Origem das espécies, de Darwin. Outras prateleiras sustentavam mais caixas, dentro das quais jaziam gládios romanos, armaduras japonesas, escudos nórdicos, placas sumérias, quadros renascentistas e outros ícones culturais que Ablon preferia preservar, nem que fosse simplesmente para não esquecer o próprio passado."
Nessas viagens feitas pelo renegado conseguimos visualizar perfeitamente a sua evolução! O personagem foi muito bem construído pelo autor. E não só o personagem principal - essa é uma das grandes maravilhas do livro - todos os personagens são construídos com esmero. Dessa forma, mesmo um personagem secundário, é descrito com perícia e sua personalidade construída magistralmente.
O livro é para quem gosta de histórias densas, com muito conteúdo! Não é uma leitura rápida, mas tampouco é uma leitura cansativa. Muito pelo contrário. Demorei um tempo longo (se comparado ao tempo que normalmente levo para ler um livro), mas foi muito aprazível. A linguagem utilizada pelo autor não é complexa, pois não utiliza palavras desconhecidas ou frases longas demais. Porém, a linguagem também não é simplista. É algo intermediário - que não impede a leitura de quem não está acostumado a esse tipo de literatura, mas certamente torna a leitura mais lenta. Entretanto, isso não é um problema, uma vez que a história é maravilhosa. Não há uma linearidade cronológica. Primeira o livro começa há poucos anos dos tempos atuais e aí passa a contar o passado de Ablon e assim vai durante o livro, ora falando do presente (do livro), ora falando do passado. Eu gostei muito do estilo de escrita do autor e da história criada por ele.
Mas como eu disse, eu encontrei defeitos que me incomodaram um pouco no livro.
A primeira coisa, que talvez não seja um defeito, mas que me deixou muito pensativa, foi o tempo. Logo no início o autor diz que o renegado havia chegado ao Rio de Janeiro há exatos trezentos anos e mais a frente, ele diz que o renegado está em um estabelecimento comercial que ele conhecia desde que chegara ao Rio. Até aí não há problema algum... mas o autor cita que o tal estabelecimento foi aberto em 1900... Esse foi um fato que não foi encontrado por mim, mas por um colega da faculdade que está lendo o livro também. Eu havia apontado alguns detalhes que não havia gostado muito e depois ele me apontou esse. E aí você diria (como eu disse a ele): mas duzentos anos para quem viveu mais de cinco mil entre os homens é pouco tempo no futuro. Poderia ser... como eu escrevi, foi isso que falei com meu amigo quando ele me apontou esse fato. Mas um pouco mais a frente, vemos o renegado dizendo que está por volta do ano 2030 (não exatamente assim, mas através de contas). Então, esse fato ficou me pertubando a cabeça. Mas se fosse só por isso, o livro ainda ganharia nota dez. Mas algo me incomodou ainda mais.
Eu não sou especialista em história... mas ainda assim gosto muito do assunto. E não gostei quando o autor sitou a Babilônia trezentos séculos antes de sua existência. Depois ele mesmo diz que essa foi uma outra babilônia, mas não achei correto a utilização do mesmo nome. Isso sem contar que ele diz, em determinado momento, que os Sumérios eram um povo primitivo que viveu dez mil anos antes daqueles babilônios. Na verdade, os Sumérios foram um povo primitivo, mas ao mesmo tempo uma civilização avançada, cujo auge foi exatamente na época em que a tal outra Babilônia do livro se afigurava. Sim, eu sei que é um livro de fantasia. Mas quando um livro se passa no nosso mundo e utiliza-se da nossa história, eu acho que fatos devem ser contados com muito cuidado. E tudo o que for diferente do que conhecemos e acreditamos deve ser conduzido com muito cuidado. O que mais me incomodou foram os animais. Primeiro o mamute. Mamute na Babilônia é totalmente inaceitável. Eles já estavam extintos há cerca de dez mil anos no período em que se passa a história. Sem contar que foram animais que viveram nas áreas mais ao norte, onde era mais frio. E, apesar de os especialistas e estudiosos ainda não saberem ao certo o motivo de sua extinção, o provável motivo do sumiço dos mamutes do mundo foi o calor. E o outro animal? Muito pior. Ele utilizou o tigre dente de sabre. E o esse animal, além de estar extinto por cerca de dez mil anos, como o mamute, não viveu na Ásia. Esse animal viveu apenas nas Américas.  Mais uma vez, não sou perita em história, o livro é de fantasia, mas fatos são fatos. E para mexer com fatos, na minha humilde opinião, é preciso muito cuidado.
Estes problemas com a história realmente me incomodaram, o autor não conseguiu me convencer dessas mudanças não explicadas na história da humanidade. Ok, podem me chamar de chata o quanto quiserem, mas me incomodou - e muito. Por isso, apesar de ser um livro muito bom, super recomendado e dentre os meus preferidos de literatura fantástica, ele recebe apenas uma nota nove.
Para terminar, então, quero novamente dizer o quanto eu gostei desse livro, o quanto ele me surpreendeu e o quanto foi delicioso deleitar-me em suas mais de quinhentas páginas. Uma leitura que vale a pena e que me deixa muito orgulhosa da literatura nacional!

Nota: 








Dificuldade de Leitura: 


 
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