Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
Globo - 314 páginas
Um livro famoso que guarda mais do que uma boa história em suas páginas. Ler este livro sem questionar a sociedade em que vivemos é uma tarefa que beira o impossível.

Título: Admirável Mundo Novo
Título Original: Brave New World
Autor: Aldous Huxley
Tradutor: Lino Vallandro e Vidal Serrano
Editora: Globo
Ano da Edição: 2007
Ano Original de Lançamento: 1932
Nº de Páginas: 314
Sinopse:
Em uma sociedade evoluída todos são felizes. Não há tristeza, nem protesto ou doenças - aliás, velhice também é algo desconhecido.
Uma estrutura social estratificada - você nasce e morre na mesma camada social. Quem nasce Beta vai realizar serviços de Beta, tem o porte físico dos Betas e se acha muito sortudo por ser um Beta. E assim também acontece com os Ipisilons, Deltas e Alfas. Eles são condicionados desde pequenos a gostarem da vida que levam e assim não tem do que reclamar.
"E esse [...] é o segredo da felicidade e da virtude: amarmos o que somos obrigados a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar."
No Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central, onde essa história se inicia, o leitor irá se deparar com a fábrica de seres humanos. É nesse lugar que a vida é gerada, totalmente controlada, onde os embriões são reproduzidos e as crianças são condicionadas para a vida adulta.
"Um ovo, um embrião, um adulto - é o normal. Mas um ovo bokanovskizado tem a propriedade de germinar, proliferar, dividir-se: de oito a noventa e seis germes [...]. Assim se consegue fazer crescer noventa e seis seres humanos em lugar de um só, como no passado. Progresso."
Numa sociedade onde não há fome, não há guerra, também não existe liberdade.
O que eu achei do livro:
O que dizer de um livro do calibre de Admirável Mundo Novo? Confesso que começo essa resenha sem saber ao certo o que irei dizer. É verdade que eu gostaria de gastar parágrafos e parágrafos tagarelando sobre o livro e debatendo os mais ínfimos detalhes. Entretanto, irei fazer uma resenha mais objetiva e sem muita enrolação - até porque acho que eu não saberia falar tão bem quanto o livro merece.
Admirável Mundo Novo é uma história notável! Não apenas por ser bem escrita e interessante, mas muito mais pela crítica que ele encerra. Aldous Huxley criou uma sociedade futurística baseada na tecnologia e no controle, como é comum em várias histórias distópicas. O fato mais interessante, a meu ver, é que o livro foi escrito em 1932 e o autor fala de algumas coisas que vemos acontecendo hoje em dia.
A maneira do autor escrever é bem diferente. E, embora seja gostosa, é um pouco mais complicada e eu não a indico para quem está começando no mundo dos livros agora. Essa não é uma história para crianças, até mesmo pelo conteúdo, que é mais pesado. O livro já foi censurado em algumas ocasiões e nem sempre apenas pelo seu caráter sócio-cultural, mas também por ser considerado "indecente". A maneira como o ser humano se relaciona nessa sociedade futurística é bem liberal e pode incomodar os mais puritanos.
Eu achei incrível a visão do autor. Ele não apenas criou a sociedade, há uma explicação plausível e muito aceitável para cada detalhe retratado de forma que a sociedade cumpra o seu único lema:
"Comunidade, Identidade e Estabilidade."
Outro fato bem interessante é a existência de uma substância chamada soma - que seria uma droga, sem os efeitos colaterais das drogas ilegais. Ou seja, um passaporte para esquecer os problemas e entrar em um mundo onde só existe a felicidade. Não é que toda vez que tal substância era mencionada eu me lembrava dos vários calmantes que hoje são legalmente vendidos e muito abusados por diversas pessoas?
Como você imaginaria um personagem chamado de "Selvagem"? Ele realmente não foi criado na civilização, ele veio de um lugar considerado selvagem. Mas garanto que é ele o personagem com quem nós temos maior identidade - afinal de contas é o que tem um pensamento mais parecido com o nosso. E isso é assustador. Não vou entrar em detalhes sobre a aparição do personagem e sua identidade porque, apesar de ser um dos protagonistas, ele só entra na trama mais tarde e, por isso, eu prefiro deixar que o leitor descubra tudo sozinho. Entretanto, eu não podia deixar de citá-lo, sendo ele tão essencial quanto é para o desenvolvimento da história. O Selvagem tem hábitos parecidos com o nosso e cita Shakespeare (autor há muitos anos proibido dentre os civilizados). É um personagem que faz os questionamentos mais incríveis do livro.
“Eu reclamo o direito de ser infeliz. Sem falar no direito de ficar velho, feio e impotente; no direito de ter sífilis e câncer; no direito de não ter quase nada que comer; no direito de ter piolhos; no direito de viver com a apreensão constante do que poderá acontecer amanhã; no direito de contrair a febre tifoide; no direito de ser torturado por dores indizíveis de toda espécie. [...] Eu os reclamo todos.”
Bernard é outro protagonista, mas confesso que ele me decepcionou demais, ao mesmo tempo que serviu para dar mais veracidade à trama. O fato dele ser decepcionante consegue torná-lo ainda mais interessante! Só lendo o livro para conseguir entender completamente o que eu estou falando.
Tenho certeza que não consegui passar tudo o que eu gostaria e não consegui falar tudo o que era necessário. Essa é, certamente, uma das resenhas mais difíceis que eu já fiz.
Admirável Mundo Novo não é uma história famosa à toa! É um livro denso, chocante, intrigante e que irá fazê-lo questionar sua vida e a sociedade em que vive. É uma leitura imperdível!
PS: A versão que eu tenho aqui em casa é a edição de bolso editada pela Globo. É uma edição muito barata, entretanto deixo aqui minha ressalva a quem, como eu, gosta de comprar livros para ler e reler. A qualidade do texto é inegável - muito bem traduzido e revisado; a qualidade do livro físico, entretanto, fica a desejar. Para aqueles que apenas irão ler o livro e depois se desfazer dele, não há problema algum - o papel é estilo jornal, não cansa a vista e o tamanho da letra é bom. Entretanto, o livro não tem qualidade suficiente para ser guardado. Não sei ao certo em que ano comprei o meu exemplar, mas pela data da edição é possível saber que ele não tem mais do que cinco anos - e parece que já é um livro velho. As folhas estão todas manchadas e algumas páginas já se mostram frágeis (as primeiras e as últimas, principalmente). Não é problema de condicionamento, garanto a vocês - é porque é uma edição realmente simples. Não aconselho aqueles que gostam de ler o livro várias vezes (como eu) a comprar essa versão, vale mais gastar um pouquinho e garantir a durabilidade do seu exemplar.
Nota:
Dificuldade de Leitura: