sexta-feira, 4 de maio de 2012

É Tenso


Acho que nasci na geração errada. Ou melhor, acho que nasci na espécie errada.

Eu sempre me senti meio deslocada e já estou quase acostumada com isso. Eu não curto o que a maioria das pessoas que conheço curtem e ainda gosto daquilo que poucas pessoas gostam. Balada, curtição, pegação, bebedeira? Nada disso faz sentido para mim. E a maioria das pessoas que também não gostam disso são muito religiosas e aí eu me sinto por fora mais uma vez, porque eu não sou. Estou sempre me sentindo deslocada.
Mas não é por causa disso que eu resolvi fazer esse post hoje. Tudo foi motivado por uma música (que me desculpem os compositores e intérpretes, mas tenho lá minha dúvida se isso pode realmente ser chamado de música). Eu já tinha ouvido a música algumas vezes, mas nunca tinha reparado nela. Até que eu prestei atenção nesse comercial que está passando na televisão e choquei. Choquei mesmo. Aliás, essa expressão não consegue traduzir o quanto fiquei decepcionada com a letra.
Ah, vocês ainda não sabem do que estou falando, né?! A internet me ajudou a pegar a letra da música (no site Letras) e aí está essa maravilhosa composição do mundo moderno:
"eu bebo mesmo
Beijo mesmo, pego mesmo
E no outro dia nem me lembro.
É tenso!"
Tenso não consegue descrever. Quando entendi essa letra eu fiquei perplexa - um monte de gente cantando essa música para cima e para baixo e é isso o que ela diz? É uma desvalorização tanto dos homens quanto das mulheres. Qual a graça de ficar com alguém e no outro dia nem se lembrar? Eu já não vejo graça nesse negócio de "ficar", mas até consigo entender quem gosta (mas que se lembra).
Eu sempre brinco com os amigos que quem bebe não sabe com quem está ficando; pode pegar mulher bonita, feia, outro homem que também está muito bêbado e sabe se lá o que mais...
O que eu acho mais incrível é que isso está ficando cada vez mais comum. E ainda mais inacreditável do que estar ficando comum é a idade das pessoas que se orgulham (acreditem, há muitos que se orgulham de tal comportamento) - não são adolescentes de 15, 17 anos (que ainda estão descobrindo a vida, testando seus limites e, portanto, acabam fazendo algumas besteiras mesmo), mas homens (e mulheres!) feitos - de 25, 30 anos.
Frequentemente eu me pego pensando sobre o que há de errado comigo (porque deve ter alguma coisa, já que sou tão diferente da maioria), mas quando vejo algo desse tipo eu tenho a certeza de que não há nada errado comigo - todas as outras pessoas é que estão erradas, por mais estranho que isso possa parecer. Veja bem, não estou criticando quem gosta de beber moderadamente, dançar e até mesmo trocar fluidos corporais com estranhos que nunca viram e provavelmente nunca mais verão - isso vá lá. Estou criticando quem bebe além da conta e depois nem se lembra do que fez - que diversão é essa?
Não estou dizendo, nem querendo insinuar, que esse é o grande mal da humanidade ou o pior que tem acontecido por aí. Nem por isso, entretanto, acho que seja algo menos grave. Eu realmente queria ver uma juventude cujo primeiro pensamento não fosse "vamos beber no final de semana!".
Me sinto tão deslocada no mundo que dá vontade de gritar "Pare o mundo que eu quero descer". É tanta coisa absurda que vejo por aí que dá mesmo vontade de desistir. E ver a juventude (que agora se estende, facilmente, até os 35 anos de idade) se comportar dessa maneira me deixa bastante decepcionada.
"É tenso demais."

Imagem "Os deslocados (adaptação)" - clique no título para acessar o link original da imagem.
 
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