sexta-feira, 1 de março de 2013

O Pacifista, de John Boyne

O Pacifista, de John Boyne
Companhia das Letras - 302 páginas
Um livro emocionante, que está me fazendo pensar e repensar os meus conceitos.






Título: O Pacifista
Título Original: The Absolutist
Autor: John Boyne
ISBN: 978-85-359-2193-9
Ano da Edição: 2012
Ano Original de Lançamento: 2011
Nº de Páginas: 302
Comprar Online: Saraiva / Submarino


Sinopse:
Tristan Sadler tem apenas 21 anos - um jovem. Mas a guerra o transformou em um homem com um imenso fardo. Não é apenas a mão direita que começa a tremular nos mais incômodos momentos. Vai muito além disso.

Os danos psicológicos são irreversíveis. Ter sido o único sobrevivente (se você não contar o companheiro que enlouqueceu completamente) de um grupo de vinte não o ajuda de forma alguma.
Ter passado por tudo o que passou, também não.
Ter perdido alguém importante só piora as coisas.

Depois de muito tempo, Sadler resolve procurar a irmã de Will Bancroft para entregar as cartas que ficaram com ele após a morte daquele que havia sido muito mais do que um amigo, muito mais do que um companheiro.
Será que ele conseguiria contar toda a verdade sobre o que aconteceu naquela época?


O que eu achei do livro:
Eu fiquei pensando... e pensando... e pensando... e agora simplesmente cheguei à conclusão de que não vou conseguir falar desse livro como eu gostaria. Já começa pela sinopse, que ficou horrível.
Não vá pela sinopse - o livro não é aquilo que está escrito ali em cima - é muito, MUITO mais.

Esse não é o meu primeiro contato com John Boyne, então estava com altas expectativas quanto a esse livro. Os outros livros que li dele foram maravilhosos.
E com esse não foi diferente: O Pacifista é extremamente delicioso!

Para começar, a escrita de Boyne é inebriante: simples, fluidia, encantadora! O autor teceu sua história de forma a ir contando, muito aos poucos, os detalhes dela. O resultado disso? É impossível deixar o livro de lado, já que o leitor fica curioso demais para saber o que aconteceu.
O bacana é que o autor não deixa para contar tudo no final - ele vai contando os fatos de acordo com que eles vão ocorrendo - nós é que praticamente não aguentamos chegar até o final.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista Tristan Sadler - que sabe contar a sua história de maneira embriagante! Ele intercala parágrafos do presente - enquanto vai atrás da irmã de Will, a quem pretende devolver as cartas do falecido amigo - com parágrafos do passado - enquanto estava vivenciando o treinamento e, depois, os horrores do guerra.

Tristan é um narrador muito emotivo e consegue passar uma tonelada de sentimentos para o leitor enquanto conta a sua história. Raiva, dor, amor, dúvidas. É possível sentir tudo isso enquanto lemos esse relato, que é um dos mais lindos que eu já li (e é tão realista, que eu fico pensando se John Boyne não soube de um caso muito semelhante e o transformou em ficção ao simplesmente mudar os nomes dos personagens).
É triste ver garotos tão novos terem que partir para a guerra. Mas, ao mesmo tempo, é lindo ver as reflexões do sobrevivente sobre os pensamentos que eles tinham antes de enfrentarem todos os problemas. No presente ele consegue enxergar o quão idiota eram as suas expectativas (e as de outros garotos), mas no passado fazia sentido.

Ok, eu falei, falei, falei do livro e ainda não disse o principal. Eu queria falar isso de outra forma - aqui reside justamente a minha dificuldade em escrever essa resenha -, mas eis que terei que tocar no assunto de um maneira que nem de longe é a que eu queria.

Não, não vou contradizer tudo o que disse até agora.
O livro é realmente fabuloso! Tudo o que eu disse até então está no livro. John Boyne, como sempre, foi muito sensível ao escrever a história, seus personagens são complexos e terrivelmente humanos (terrivelmente no sentido ruim mesmo, em alguns momentos dá raiva das atitudes de personagens que são graciosos), o livro transborda sentimentos e a leitura é uma delícia.
Mas há mais.

O quê?
Romance.

Isso mesmo. O Pacifista é um livro sobre guerra, mas também um livro sobre amor. Um amor proibido - pela sociedade, pela família, pelos próprios enamorados.
Sabe quando o casal não pode simplesmente querer estar junto porque todas as outras pessoas à sua volta iriam ter algum motivo para dizer que eles nunca deveriam fazer isso? É o caso no romance de Sadler. O agravante maior é que nem mesmo ele - o próprio narrador - aceita o sentimento. Nem Sadler e nem seu parceiro.

ParceirO. Pois é, não falei errado não. O livro trata de homossexualidade, mas de uma forma como eu nunca havia me deparado com o assunto em livros antes.

Sim, existe aquela história de que ninguém vai aceitar (inclusive os dois). Sim, existe o caso de que na época isso era considerado crime. Sim, Sadler estava nadando contra a sociedade e sofreria por isso (sofreu!). Mas esse não é o foco do livro - ninguém é vitimizado.
Não! O livro foca muito mais nos dilemas pessoais de Sadler para se aceitar como é, aceitar o que sente.
A maneira como o autor aborda o assunto é incrível e tocante. Não consigo explicar - não sei explicar. O assunto é tratado simplesmente como um amor que não pode ir para frente porque a sociedade não aceita e faz com que eles mesmos não sei aceitem - mas da mesma forma que teria sido tratado se o problema fosse relativo a classes sociais, cor de pele ou preferência sexual.

Eu queria escrever essa resenha dizendo apenas que o livro fala de um amor proibido pela sociedade - sem deixar claro o porquê dele ser proibido, porque como mencionei acima o problema poderia ser outro. A abordagem do autor foi linda e eu queria conseguir passar isso nessa crítica.
Mas eu não sou o John Boyne, não sou talentosa como ele e, por isso, você está perdendo um tempo precioso lendo esse meu texto ao invés de ler O Pacifista. Valerá cada segundo do seu tempo - na primeira, na segunda ou na vigésima leitura do livro - porque eu tenho certeza que você vai reler essa história e indicar para muita gente.

Será que um dia conseguiremos aceitar o próximo e suas escolhas, mesmo que elas sejam definitivamente diferentes das que faríamos? Aceitar o diferente, o igual, o impensável, o impossível?
Espero que sim.
E que isso seja feito com respeito - de todos os lados. Respeitar e ser respeitado: é pedir demais?

O Pacifista é um livro emocionante, que está me fazendo pensar e repensar os meus conceitos. Uma leitura que recompensa o leitor não apenas com bons momentos - enquanto ele se deleita com a narrativa de Sadler - mas também com importantes reflexões sobre si mesmo e a sociedade na qual está inserido.
Um livro para fazer chorar, pensar, refletir, desejar.


P.S.: O final do livro é simplesmente emocionante demais. Em nenhum momento eu pude perceber aonde essa história estava me levando.
Até onde a narrativa iria chegar? O que, verdadeiramente, tinha acontecido?
Não pude prever nada. Estava às cegas - sem saber o que esperar.
Foi chocante.


Nota: 


 
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