segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Homem-Máquina, de Max Barry

Homem-Máquina, de Max Barry
Intrínseca - 284 páginas
E se fosse possível melhorar seu corpo, driblando as limitações impostas pela biologia?



Título: Homem-Máquina
Título Original: Machine Man
Autor: Max Barry
Tradutor: Fábio Fernandes
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-85-8057-237-7
Ano da Edição: 2012
Ano Original de Publicação: 2011
Nº de Páginas: 284
Comprar Online: Saraiva / Submarino


Sinopse:
Charlie é um engenheiro aficcionado por tecnologia e uma negação total em se sociabilizar. Por isso, quando perde o celular, ele fica muito apreensivo - como ele poderia viver sem o seu celular?
Ele não sossega enquanto não consegue encontrar o aparelho, mas quando finalmente o acha, acaba esquecendo que está em uma sala de testes com máquinas potencialmente perigosas. Um acidente acontece. Charlie perde uma perna.

O período passado no hospital não é fácil, mas as coisas começam a ficar melhores quando Lola - a responsável pelas próteses por quem Charlie prontamente se apaixona - traz as próteses para o engenheiro.
Quando vê o quanto elas são simplórias, sua mente inventiva começa a funcionar e ele decide que irá criar uma prótese melhor para si mesmo.

E é então que as coisas saem da linha, afinal de contas, um engenheiro acostumado com tecnologia e com o que há de melhor não pode se curvar às limitações impostas pela biologia, certo?!


O que eu achei do livro:
Eu ainda não consegui decidir se gosto ou não desse livro. Definitivamente eu tenho medo do Max Barry por ter pensado nessa história.

Na verdade, ele não pensou totalmente sozinho. Homem-Máquina nasceu como um projeto online, onde durante nove meses o autor postava uma página da história por dia e ouvia o feedback dos leitores - que ajudavam com opiniões e sugestões. Segundo o próprio autor, nem tudo foi acatado, mas mesmo as sugestões não utilizadas na história auxiliaram a formá-la de alguma maneira.
A versão final do livro, que foi publicada em papel, não é a mesma que foi publicada online - até porque a maioria das páginas foi escrita no dia anterior à sua publicação, o que não dava muito tempo para revisar o trabalho. De forma geral, ele define esse livro online como um rascunho para a versão final da história de Charlie.
Ainda assim, tenho medo de Max Barry.

A escrita do autor é muito gostosa e a leitura é super dinâmica! O livro flui e o leitor não resiste a ler mais um pouquinho - tentado a saber até onde Charlie terá coragem de ir. E ele vai longe, longe demais. Não apenas ele, mas Lola, Cassandra, Carl e Jason também.

Os personagens são bastante estranhos - quase caricaturas de estereótipos da vida real. A crítica que o autor faz à sociedade através de seus personagens e de suas atitudes extremistas é muito interessante. Ele critica a sociedade capitalista, que visa o lucro acima de tudo; a tecnologia sem limites; a inabilidade social.
E tudo isso recheado com um humor negro.

Sim, para mim é humor negro. Não posso negar que eu ri em vários momentos desse livro. Eu ri mesmo. Mas me senti culpada por estar rindo em tantos outros, justamente porque as situações são no mínimo bizarras.
O que o Charlie faz com o próprio corpo e as justificativas que ele tem... é até difícil falar sobre isso (principalmente porque não quero entrar em detalhes. Leia e veja do que Charlie é capaz). A história é contada em primeira pessoa por Charlie e, portanto, podemos vislumbrar tudo o que ele está pensando enquanto comete seus atos insanos, mesmo que ele tente se justificar.
Aqui fica um alerta: o livro não deverá ser lido por crianças, nem por pessoas fracas. A história é bastante forte, como eu mencionei acima, Charlie não tem limites e não hesita em fazer o que acha que vale a pena - mesmo que isso seja totalmente inaceitável de todos os pontos de vista pensáveis.

Em um primeiro momento, eu apenas achei que ele queria fazer coisas melhores. Aprimorar uma tecnologia - a das próteses - que não estava tão avançada quanto a ciência contemporânea (contemporânea ao livro, não há uma definição muito clara da época em que os eventos se passam... embora possa muito bem ser hoje em dia ou em um futuro muito próximo). Na cabeça dele é quase isso que ele está fazendo, só que ele ultrapassa o limite do que é lógico e aceitável (segunda a ótica de quem?! De qualquer pessoa exceto ele mesmo, Lola e Cassandra). Só para dar um gostinho do nível de insanidade do protagonista, ele resolve que a perna que ele não perdeu - isso mesmo, a perna boa - é uma limitação biológica da qual ele precisa se ver livre, porque as pernas que ele criou são obviamente superiores. Sério. Ele faz isso, quero dizer, cortar a própria perna para poder implantar a prótese que ele criou. Eu disse que era pesado e insano e bizarro.

Quão longe estamos dispostos a ir em prol de melhorias? De uma tecnologia mais avançada?
Confesso que não foi apenas o Charlie que me desconcertou. Seus assistentes com suas invenções - tal qual a Pele Melhor - também me deixaram atônita.
Será que realmente precisamos ir tão longe para tornarmos melhor frente ao que a sociedade considera melhor? E é uma boa saída recorrer à tecnologia desmedida para isso?

Sabe o que acho que realmente me assustou tanto ao ler esse livro? A probabilidade de que algo desse nível um dia se torne verdade.
Ok, talvez não o Charlie - ele é realmente demais.
Mas a Pele Melhor ou as Lentes Z são melhorias que eu imagino que estarão disponíveis no mundo em pouco tempo. E apesar de um pouco mais leves, ainda assim são bizarras.

A edição da Intrínseca ficou excelente! Acho que o tradutor deve ter tido algumas boas dificuldades para conseguir passar para o português um livro tão difícil, mas o resultado final ficou bastante agradável.
A capa é muito bacana e foi um dos motivos que me fizeram ler o livro. Mas agora que conheço a história sei que esse cara não é o Charlie. Ei, o cara é todo fracote, nunca teria aqueles braços e peitoral como estão na capa.

Max Barry escreveu uma ficção-científica como eu nunca havia lido igual. Personagens perturbados,  tecnologias incríveis, atitudes extremistas - tudo deveras assustador! E cômico.
Divirta-se lendo Homem-Máquina e se pegue refletindo sobre que rumo os adventos tecnológicos estão tomando.
É preciso ter estômago forte para encarar o livro, mas até que vale a pena ler a história, mesmo que você vá odiar (e eu honestamente espero que odeie) Charlie e sua desumanidade.

PS: Quem é da área de tecnologia, como engenharia ou computação, com certeza irá entender os termos técnicos empregados pelo protagonista.
O mais engraçado é quando ele usa esses conceitos para descrever situações cotidianas.
Por exemplo, quando ele diz que tudo é um sistema e poderia acontecer um deadlock por causa de um saleiro. É hilário. Para quem está curioso, a situação "Deadlock do Sal" está na página 130.


Nota: 





Dificuldade de Leitura: 


 
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