segunda-feira, 14 de novembro de 2011

As Esganadas, de Jô Soares



Título: As Esganadas
Autor: Jô Soares
Editora: Companhia das Letras
Ano da Edição: 2011
Nº de Páginas: 262
Comprar Online: Saraiva / Submarino


Sobre o livro:
Caso d'As Esganadas. É esse é o nome que a imprensa está dando a esse caso que intriga Mello Noronha, que, mesmo auxiliado pelo perspicaz ex-detetive português, Tobias Estevez, não consegue descobrir o culpado de tão hediondos crimes.
Quatro mulheres gordas, todas filhas de gente importante, foram mortas de maneira cruel. A forma como a polícia as encontrou também é intrigante.
Não pense que todo o mistério do livro ronda em quem matou as mulheres. Não. Logo no início, o autor já diz quem foi e até mesmo mostra o anúncio que o famigerado utilizou para capturar suas presas.
"DEGUSTAÇÃO GRÁTIS!
PROVE OS SABOROSOS PETISCOS DA PÂTISSERIE DOCES FINOS E AJUDE-NOS A ESCOLHER. NENHUMA EXPERIÊNCIA NECESSÁRIA."
Ao ler esse livro, o leitor não irá se perguntar quem é o assassino. Nem mesmo quais são suas motivações, porque o autor também as deixa claras o tempo todo. A questão é: como a polícia irá descobrir quem é o assassino.

O que eu achei do livro:
Divertido, irreverente e delicioso! Como Luis Fernando Veríssimo afirma na contracapa do livro "a trama deixará você, ao mesmo tempo, horrorizado e com fome". Ele só esqueceu de dizer que o livro também o deixará de ótimo humor!
A escrita de Jô Soares nada tem de simples. É fina, sem ser rebuscada, e cheia de intertextualidade! É incrível a maneira como o autor brinca com as palavras. Sabendo que um dos personagens principais é português, o autor utiliza a grafia de Portugal em algumas palavras, na fala do personagem e quando elas o caracterizam. Assim, Tobias Estevez é um detective muito bem construído! Gostaria muito que Jô Soares o aproveitasse em outro romance, no futuro. Além de um personagem absurdamente inteligente, ele ainda tem algumas pitadas de detetives que adoro, inclusive de Sherlock Holmes. E cita vários princípios usados por esses detetives famosos (além de vários ditados portugueses, que são muito divertidos).
"Ockham foi um frade inglês da Idade Média, um filósofo. A sua teoria é a de que, se uma acção tiver várias explicações, a mais simples é a melhor."
"Quando se elimina o impossível, o que resta, por mais improvável que pareça, tem de ser a verdade."
"Ausência de prova não é prova de ausência."
O enredo do livro é bastante diferente. Gosto muito de livros policiais e estou acostumada com o que é mais normal: um livro onde o objetivo é encontrar o criminoso. Saber logo no início quem era o culpado foi uma experiência muito diferente e, garanto, muito agradável! A história não perdeu nada por sabermos quem é o culpado, apenas ganhou, pois é uma maneira muito única de construir um enredo policial.
Jô Soares trata as gordas de maneira caricata, que é ao mesmo tempo muito divertida e super irritante (talvez porque seja eu uma das gordas de quem ele fala, mas isso não vem ao caso). Um trecho do livro deveria vir antes de qualquer coisa, justamente por falar tão bem sobre o caso das pilhérias: as gordas.
"Existe um preconceito velado contra a obesidade. Na verdade, dificilmente os homens o sentem. Podem ser gordos inteligentes ou ricos ou oferecerem outros atrativos. Quem sofre o problema com maior intensidade são as mulheres. As mulheres gordas. O leitor pode se escandalizar com o uso da palavra gorda. Os eufemismos mais comuns são: cheinha, forte, grande e, o mais ousado, gordinha.
Geralmente, acham que a gorda (odeio a palavra obesa) não tem força de vontade. Nem caráter. Nem vergonha na cara. A gorda é um pária; o excesso de peso, um divisor de águas. O próprio adjetivo é um palavrão. Ninguém se importa com o sofrimento ou com a humilhação da gorda. Acham que ela é gorda porque quer.
Observem o olhar triste das moças gordas varrendo as vitrines da moda. Os figurinos são para as magras. Alguns vendedores ainda informam sem se alterar: 'Aqui é só para as pessoas normais, madame.' E a gorda se afasta engolindo o ultraje. Restam-lhe as lojas especializadas ou as costureirinhas de bairro. Para mim, anormal é o tratamento do vendedor.
A obesidade é democrática, não faz diferença de classe. Há gordas ricas e gordas pobres. Todas sentem a mesma reprovação silenciosa da sociedade. Existem gordas belas, mas se a beleza é notada, há sempre um apêndice ao comentário 'O rosto é lindo. Pena que seja gorda'."
Um romance bem diferente, inteligente e muito bem humorado! Se os demais livros do Jô forem tão bons quanto esse, mal posso esperar para conhecê-los!

Nota: 




Dificuldade de Leitura: 


 
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