Contos da Nanie é uma coluna do blog Nanie's World! Sempre que a Nanie tiver contos novos, irá postá-los nessa coluna, que sairá às sextas-feiras!
Sua opinião é muito importante! Diga o que você achou das histórias, sua opinião é muito importante para mim!
A culpa dessa coluna existir no blog é da @vanbosso que insistiu muito para que eu postasse os meus contos!
Consequências
Lena estava muito apreensiva. Ela sabia que aquele palitinho poderia mudar toda a sua vida, poderia atrasar todos os seus planos.
Ela tinha muito medo, ao mesmo tempo queria saber e não queria saber a resposta para a tão temida pergunta. Pergunta que a rodeava a três dias. Como tudo aquilo poderia ter acontecido? Como ela poderia ter caído naquela cilada?
Lena pegou o pacote e abriu. Ficou olhando para o palitinho por uma eternidade, que na verdade foram apenas segundos. A coragem faltava. Agora faltava. Agora não era hora de ter medo. O medo deveria ter existido antes.
Enfim ela tomou coragem e urinou no teste de gravidez. A instrução dizia que ela deveria esperar três minutos. Ao fazer um macarrão instantâneo parecia pouco tempo, mas agora parecia muito mais com a eternidade.
E enquanto todo esse tempo passava, ela ficou pensando...
Faltam 3 minutos
Ela estava com apenas 13 anos - iria fazer 14 em agosto, faltavam mais de quatro meses. Como poderia tudo ter acontecido dessa maneira. Lena ficava pensando em tudo o que já tinha ouvido no rádio, na televisão, na boca dos pais e professores e até mesmo na internet.
Ela tinha se apaixonado por Bruno a quatro meses atrás. Nunca acreditaria que o garoto mais gato do colégio se interessaria por ela. Ele havia se mudado para o mesmo prédio de Lena durante as férias - e ela logo caíra de amores pelo garoto.
E qual não foi sua surpresa ao descobrir que ele estaria estudando na mesma escola que ela - dois anos na frente, mas ainda assim na mesma escola. Ela ficava só observando, cada hora Bruno tinha uma garota. Mas ela não se importava, continuava doida nele - afinal de contas, se um dia ela ficasse com ele é claro que iria consertá-lo.
E o inimaginável aconteceu, um dia, quando ela saiu com a turma do prédio para ir ver um filme, Bruno chegou perto dela. Ele pediu para ficar com ela - e ela aceitou, claro. Era tudo o que queria nos últimos três meses.
E os dois passearam juntos pelo colégio, pelo prédio, pela cidade inteira - não que fosse uma grande cidade, mas o importante é que os dois estavam sempre juntos. E apesar de Bruno não ser muito romântico e parecer exibi-la mais do que amá-la, Lena não se importava - tudo era um sonho para ela.
Faltam 2 minutos
Uma adolescente de 13 anos filha de um advogado e uma médica, gente ilustre da pequena cidade do interior onde ela vivia. Lena estudava no melhor colégio da cidade e tinha tudo o que queria. Ela era parte da elite da cidade. Menina estudiosa, que tirava boas notas, educada e que agora estava de namorado novo - um lindo casal. Quando tudo isso tinha mudado?
Na verdade tinha apenas uma semana.
Bruno nunca tinha sido muito amoroso, mas ela percebia que ele estava ficando mais distante. E após muito conversar com as amigas ela tomou uma decisão: iria se entregar para Bruno para manter o relacionamento. É claro que se ela desse a ele o que um homem mais quer - sexo - Bruno nunca iria abandoná-la.
E assim foi que Lena, de apenas 13 anos, teve sua primeira relação sexual. Noite mágica? Que nada. A experiência tinha sido horrível - Bruno foi completamente insensível e, além de tudo, ela sentira muita dor. Mas isso não teria sido o pior - agora ela sabia. Ele tinha falado que não iria usar camisinha - que isso diminuiria o prazer e ela, boba, aceitou.
Claro que ela já tinha ouvido falar muito nisso, e etc e tal. Mas era só um veizinha, nada poderia acontecer. E ela precisava desesperadamente salvar o namoro.
Falta 1 minuto
Bruno tinha terminado tudo com ela no dia seguinte - faziam seis dias hoje. Ela ficou muito triste - pensou que aquele era com certeza o pior dia de sua vida, que nada poderia fazê-la mais infeliz. Ledo engano, ignorância de uma criança.
Três dias atrás ela tinha começado a passar mal - enjoos, vômito. Ela já tinha visto muitos filmes, só poderia estar grávida. Foi quando o pânico realmente começou - como assim ela grávida? Ela tinha apenas 13 anos e uma vida inteira pela frente. Não poderia tomar conta de uma criança, não saberia tomar conta de uma criança. Além disso, não era ela mesmo uma criança? Como iria carregar isso por nove meses?
Ela era uma princesa na sua cidade, o que todos iriam pensar, o que todos iriam dizer? Será que ela teria que se mudar? E a sua mãe? Ela era médica - cardiologista - mas nunca iria entender que a própria filha passasse por isso. Seria expulsa de casa? Lena esperou durante um dia inteiro por melhoras, não poderia ser verdade.
Mas no dia seguinte acordou passando mal do mesmo jeito. O que fazer? Ela foi conversar com Cláudia, a sua melhor amiga. Cláudia também não sabia o que fazer. Mas um pouco mais racional do que Lena ela sugeriu que antes de tudo, elas tinham que ter certeza. Cláudia explicou para Lena que existia o teste de farmácia e que elas poderiam comprar um para saber se Lena realmente esperava um bebê.
Faltam 30 segundos
A cidade era muito pequena - tinha apenas três farmácias. Duas meninas de 13 anos comprando um teste de gravidez numa farmácia ira gerar muitas suspeitas.
As duas decidiram então pegar um ônibus, dizendo que iriam apenas na cachoeira de Felicidade - cidade a apenas 30 minutos de Montanhosa. As duas mães acreditaram e elas foram.
Cláudia, que era a mais corajosa - e com certeza não-mãe - das duas comprou o teste.
Ela estava agora do lado do banheiro esperando o resultado.
Leia estava sozinha pensando todas essas coisas - lembrando dos últimos dias.
Faltam 15 segundos
Como ela poderia ter sido tão burra? Tão estúpida? Tão ignorante? Como ela poderia ter feito algo tão importante com alguém que não a considerava importante. Nesse momento ela viu como não só o relacionamento com Bruno tinha sido uma mentira - que só ela vivera - como a sua atitude tinha sido imbecil.
E pior de tudo, como ela poderia ter se deixado enganar tão facilmente? Já tinha visto em vários lugares como era perigoso, não pela criança (é claro que ela não queria ser mãe agora, mas isso não era o pior), mas pelas doenças que ela poderia ter pegado. Ele era um galinha - ela sabia disso. E com certeza ela não teria sido a primeira mulher de Bruno.
Resultado
Ela não tinha coragem de olhar. Os três minutos tinham passado, mas ela não tinha coragem de olhar. Por uma burrice e uma irresponsabilidade infantil ela iria ter uma vida completamente diferente do que tinha sonhado. Será que ainda poderia ser uma arqueóloga? Será que ainda poderia correr atrás dos seus sonhos tendo um bebê que dependeria dela para tudo?
Tomou coragem - já tinha tido a pior e mais perigosa coragem de abrir mão de sua segurança - e olhou.
Azul.